QUANDO ELE É O PRÓPRIO DEUS!

Milhares e milhares (talvez cerca de 35 milhões) de angolanos continuam a manifestar o seu apoio incondicional e eterno ao Presidente do MPLA, general João Lourenço. As marchas, que atravessaram Angola chegando a Portugal e ao Dubai, destacaram a liderança corajosa, ousada, celestial e messiânica do Presidente.

Por Orlando Castro

Os participantes das marchas reafirmaram seu voto de eterna e submissa confiança nas iniciativas do Executivo, que incluem a construção de infra-estruturas e a implementação de projectos voltados para a melhoria da qualidade de vida dos angolanos. A recente aprovação da nova Divisão Político-Administrativa, que acrescentou três novas províncias ao país, foi uma das principais motivações para o evento. Proximamente será, inclusive, anunciada a ligação marítima entre o Lobito e o Huambo, bem com a extensão do metropolitano de superfície entre o Aeroporto Internacional Genocida Agostinho Neto e a Jamba.

Durante o evento, o Secretário-Geral do MPLA, Paulo Pombolo, enfatizou a importância do apoio contínuo dos militantes e da sociedade civil ao Presidente João Lourenço e sua estratégia de liderança. Daniel Neto, Primeiro-Secretário do MPLA na Lunda-Sul, destacou as marchas como um meio de mobilizar a população a apoiar o líder do partido.

António Caliango, Secretário municipal do MPLA no Lobito, ressaltou as transformações no país, especialmente no aumento da produção nacional, e a necessidade de alcançar a auto-suficiência, tarefa iniciada há 49 anos e que ainda não conseguiu ir além da Cidade Alta. Gabriel Cassuaia, Primeiro-Secretário do MPLA no Huambo, sublinhou o apoio às reformas no combate à corrupção e à impunidade, omitindo (por razões estratégicas) informações sobre o referido projecto de ligação marítima ao Lobito…

Os participantes demonstraram entusiasmo, quase um orgasmo, ao entoarem os novos e originalíssimos slogans do MPLA: “Viva o Camarada Presidente João Lourenço” e “O povo está contigo”. As celebrações também destacara os avanços na diplomacia e o incentivo à diversificação económica, com panfletos e retratos do Presidente sendo acenados em sinal de apoio e exaltação.

ENTRE A PÓLVORA E O CAMINHO MARÍTIMO PARA O HUAMBO

O Presidente da República, do MPLA e Titular do Poder Executivo defendeu, em Janeiro de 2023, o aumento da produção interna de bens e serviços e, consequentemente, a redução das importações. Finalmente João Lourenço descobriu a pólvora. Obrigado senhor general. Só falta o caminho marítimo para o Huambo. Agora já cheira a… paraíso.

Ao discursar na cerimónia de posse dos membros do instrumento decorativo do MPLA que dá pelo nome Conselho Económico e Social (CES), João Lourenço referiu que para o cumprimento destes objectivos é necessário contar com o sector privado. Quem tem um presidente capaz de fazer tais descobertas não precisa de outro líder. Cada vez mais ele não é o representante de “deus” em Angola. É o próprio “deus”.

“É o sector privado que tem que produzir, embora o Estado não possa exonerar-se das suas responsabilidades”, afirmou o Presidente, que orientou os membros do CES a ajudarem o Executivo a encontrar melhores soluções para o cumprimento desta missão, bastando para isso seguir o programa que o MPLA tem implantado nos últimos 49 anos.

O CES é, supostamente e apenas de forma decorativa, um órgão autónomo de reflexão de questões de especialidade macroeconómica empresarial e social à disposição do Presidente da República (como se ele precisasse disso), para efeitos de consulta de matérias do interesse do Executivo e, é claro, quando quiser vender a ideia de que Angola é aquilo que não é – uma democracia e um Estado de Direito.

O general João Lourenço defendeu ainda um “casamento prefeito”, segundo escreveu a Angop (se calhar queria dizer “perfeito”), entre o Executivo e o sector privado, para que cada um cumpra com a parte que lhe compete.

“Só assim, conseguiremos aumentar a produção interna de bens e serviços e aumentar o nível das exportações do país, de forma mais diversificada”, sustentou.

Para o Titular do Poder Executivo, o país não pode limitar-se a exportar matérias em bruto, como o petróleo e os diamantes, mas diversificar a qualidade dos produtos exportados. Hum! Mas exportar o quê? O que mais o MPLA diversificou foi a pobreza, a miséria, a fome, as desigualdades sociais e os exemplos de que os seus dirigentes têm o cérebro ligado aos intestinos. Será que isso tem cotação nos mercados externos?

O general João Lourenço lembrou que o Executivo aprovou alguns programas, com realce para o do aumento da produção de grãos, de fomento da pecuária e a transformação da carne para consumo, o que iria reduzir a importação destes bens. Claro. Claro. Ainda não foi desta que criou o PPCRB (Programa de Plantação das Couves com a Raiz para Baixo), mas com a ajuda deste CES (como de outros) lá chegará nos próximos 51 anos.

Neste sentido, defendeu um maior investimento na construção de mais matadouros no país, para garantir que a carne chegue à mesa dos consumidores em perfeitas condições de consumo. Digam lá que não é de mestre? Só mesmo um génio poderia chegar a esta conclusão. Todos os angolanos (os do MPLA, é claro) devem estar em delírio permanente e a gritar, de joelhos, “que o nosso rei nunca nos abandone”!

O Chefe de Estado solicitou igualmente aos membros do CES para ajudarem o Executivo (como se isso fosse preciso) a pensar nas melhores soluções para colocar a indústria da madeira ao serviço do país, não só com vista a proteger melhor as florestas, como também criar mais emprego.

“A indústria de móveis deve ser desenvolvida. Actualmente, tirando a produção de carteiras escolares, pouco mais se faz”, observou. E que tal recordar o que, também nesta matéria, os portugueses faziam antes de o MPLA comprar o país ao preço da uva mijona?

No capítulo social, o Presidente continuou a mostrar toda a sua intelectualidade e falou da necessidade de melhores soluções para se expandir a educação, o ensino, a saúde, o desporto e a cultura a todos os cantos do país, com a construção de mais infra-estruturas.

MAIS DO MESMO… PARA MATUMBOS!

Em 29 de Setembro de 2020, João Lourenço considerou que perante o “mar de dificuldades” decorrentes do baixo preço do petróleo e, na altura, da Covid-19, a “única saída” que restava a Angola é “produzir internamente tudo o que as potencialidades do país permitirem”.

“Estimular a produção interna de bens e de serviços, contando com o investimento privado nacional e estrangeiros na agricultura, nas pescas, na indústria, no turismo, na imobiliária e outros ramos da economia nacional”, afirma João Lourenço. Há 49 anos que o MPLA sabe o que é preciso fazer (antes de 1975 já os portugueses estavam a fazer), mas continua no dilema do “sim, não, talvez, antes pelo contrário, todavia, não obstante, antes pelo contrário”…

Em Setembro de 2020, o Presidente, que falava no Palácio Presidencial, em Luanda, na cerimónia de posse dos membros do CES de então, sublinhou que o estímulo da produção interna devia concorrer para o “aumento da oferta de emprego”, sobretudo para os jovens.

“A tempestade passará, mas a bonança só vem com o trabalho organizado e abnegado dos melhores filhos da pátria, daqueles que procuram fazer bem o que sabem fazer, colocando esse saber em prol do desenvolvimento económico e social do país”, notou João Lourenço com uma perspicácia quase… divina. E se for possível que os “melhores filhos da pátria” sejam do MPLA, então a salvação e o paraíso estarão aí mesmo ao dobrar da esquina.

“Juntos descobriremos as oportunidades que se escondem por detrás do que aparenta só serem dificuldades”. “Descobriremos juntos as formas de criar riqueza e acabar com a pobreza”, observou João Lourenço.

Por modéstia, uma das suas muitas características, o Presidente não falou na possibilidade de, juntos, se descobrir o caminho marítimo para o Huambo. Será desta?

Num olhar às dificuldades mundiais, agravadas pela queda do petróleo e pela Covid-19, com reflexos negativos igualmente para a condição socioeconómica de Angola, referiu que a situação “obriga a ser cada mais engenhosos e criativos”.

Salientando que todos pretendem “o melhor” para Angola, “independentemente de quem tenha o mandato do povo para governar”, realçou que ao longo dos três anos de mandato (estávamos em 2020) à frente do poder em Angola, o executivo tinha procurado “sempre trabalhar com a sociedade civil organizada”. Ou seja, a sociedade civil organizada opina mas quem decide é João Lourenço.

“Com as ONG, igrejas, associações profissionais e empresariais que nos têm ajudado a encontrar os melhores caminhos na solução dos problemas económicos e sociais que enfrentamos”, apontou.

Na altura os economistas Alves da Rocha, Carlos Rosado de Carvalho, José Severino e Precioso Domingos, o ambientalista Vladimir Russo e a activista e defensora dos direitos da mulher Delma Monteiro foram algumas das personalidades escolhidas para integrar o CES.

Mostrando ao que iam, os membros do Conselho Económico e Social enalteceram a criação do órgão considerando que o mesmo seria um “espaço privilegiado de influência de políticas públicas” e onde João Lourenço teria “melhor informação para decidir”. Pois! Viu-se. Já estamos no paraíso, segundo João Lourenço.

“Isso pode ser considerado um passo, num bom caminho, este Conselho tem um conjunto de pessoas que pensam pela própria cabeça e que dizem aquilo que pensam, e é isso que espero que os conselheiros façam e que eu pessoalmente vou fazer junto do Presidente”, afirmou o economista Carlos Rosado de Carvalho. E como não é pecado… esperar é uma qualidade. Aliás, em Angola não se aplica o adágio popular português que nos diz que “quem espera desespera”. Por cá só vale o que afirma que “quem espera sempre alcança” (se for do MPLA)… nem que seja na santa paz da eternidade.

Para o também jornalista, um dos 46 membros que compunham então o CES, o chefe de Estado angolano não vai ter de fazer aquilo que os conselheiros disserem. “Não vamos dizer aquilo que o Presidente quer ouvir, mas vamos dizer aquilo que pensamos e dar um contributo e, no caso de economistas, tenho a certeza de que o Presidente da República vai ter melhor informação para decidir”, acrescentou.

Em síntese, todos os angolanos devem fazer o que João Lourenço recomendou ao Conselho da República, ou seja que conjuguem bem o verbo reflectir… e estarem calados.

Para reflectir está cá quem pode e manda: o querido líder, general João Lourenço.

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